Uma coisa me intriga: a relação do poder público com o carnaval. Desde menina, bem pequena, apesar de uma boa parte da minha família ser protestante, me acostumei ao carnaval. Na minha infância, a festa era na rua; aos poucos foi passando para os clubes, até que, lá por certa altura da adolescência, o carnaval de rua finou, enquanto os clubes ainda persistiram algum tempo. Criança, nos anos 1950, eu morava no subúrbio do Rio e lembro dos coretos, das decorações coloridas, das gambiarras e dos altofalantes. De dia, existiam os blocos de sujo, formas espontâneas de festividade, que surgiam de repente, com roupas cotidianas ou inventadas, fantasias, molambos, latas, instrumentos improvisados e reais. As crianças não podiam participar destes blocos, ao menos as…