As peraltices do afeto
De repente, um espanto: o mundo dos afetos, do amor. Um painel de fragilidades desfila diante dos olhos. Cada ser, uma escravidão de si, uma escravidão da própria afetividade. São seres racionais, mas o afeto subjuga-os, a todos aniquila e não traz resposta, só a solidão. Ou algum vazio. A liberdade de amar não liberta, desgoverna.
A estrutura da peça obedece a uma lógica extrema, cristalina, mas integrada por pequenas partes soltas, de um minimalismo surpreendente. O cálculo funciona num sentido cerrado, para deixar em suspenso a visão dos jogos do afeto: A Reunificação das Duas Coreias, de Joël Pommerat, cartaz do Oi Futuro Flamengo, é pura ousadia. À ousadia temática – a ácida decisão sutil de estranhar o íntimo, o simples – foi somado um cálculo teatral vertiginoso.