Com quantas pedras se faz um bom teatro?
No meio do caminho, sempre tem uma pedra – e não, não são só os poetas que esbarram com a coisa. É a vida. Não dá para andar sem tropeço. Passa o carnaval e vem a ladainha: como alguém pode celebrar as escolas de samba? Como alguém ousa dizer algo positivo a respeito destes antros de perdição, que vicejam por aqui sem freio desde o início do século XX? Curioso notar que poderia ser fala do Prefeito desequilibrado do Rio, preocupado em afundar a cidade. Mas não, gente lúcida e bem intencionada anda com a fala perto da garganta desafinada do alcaide.
A primeira vez que li sobre as hordas de capoeiras no século XIX, fiquei pasma. Os relatos falavam de negros libertos ou quilombolas, arruaceiros, que assaltavam as procissões ostentação, com os seus fiéis cobertos de joias. Resultado: acabaram com as procissões por um tempo e quando voltaram eram cortejos de gente despojada. As primeiras vezes que vi desfiles de escolas de samba, na Praça XI, eu era criança – e o problema dos adultos era proteger os infantes, quando a polícia chegava para pegar os bandidos sambistas! Voava pancadaria para todos os lados e eram engraçados os relatos da confusão.
Cresci vendo todo o mundo adulto ao redor jogar no jogo do bicho. Tive uma grande amiga na primeira série ginasial, que perdi de vista, muito tímida, que era filha de um banqueiro de bicho – mas era a família dois, a filial, e moravam numa casa digna do Boca de Ouro: um coreto-ostentação. Uma amiga relatou há umas semanas que no condomínio dela, na Barra, ninguém teme assalto – a maioria dos moradores é de milicianos e de bandidos mesmo. E todos convivem de maneira muito civilizada.