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                           Palpitações infinitas

E o seu coração, como vai? Nestes tempos agitados, importa ter coração forte, pois os fatos que andam pelos ares de agora nem sempre se apresentam com elegância ou neutralidade.

De repente, desabam ao redor do cidadão delicado fatos desastrados, traiçoeiros de quatro costados, coisas daquele time pesado, inclinado ao descalabro de pisotear corações. E aí, o coração faz ticaticabumtchi, sem a alegria da Carmen Miranda.

Para quem gosta de teatro, algumas notícias recentes foram bem cardiocidas – destaque para o melancólico fim do bairro teatral que se acreditava consolidado ali no Leblon. Não dá para entender a vida efêmera dos teatros cariocas; raros, aqui, chegam ao centenário, talvez por uma razão dolorosa: amigos sinceros, não têm!

Neste deserto, o que se pode fazer? Unir forças em benefício dos teatros que restam, na tentativa de conseguir que tenham longa vida. E ir o mais longe possível no reconhecimento da beleza da arte – portanto, enaltecer os valores, as genialidades, louvar as grandes iniciativas, proclamar a qualidade das criações oferecidas pelo palco nacional.

Andei lendo uns papeis velhos assinados por Artur Azevedo nos jornais, por volta do fim do século XIX.  Surpreende perceber, nas suas constatações, como a situação cultural do país não mudou, mais de cem anos depois. E, no entanto, em termos relativos, considerando-se o número de habitantes das duas épocas, o Rio tinha mais teatros do que tem hoje. E tinha um bairro teatral famoso, querido e muito frequentado – a Praça Tiradentes.

O mais notável de tudo é ver como o estreito interesse do Estado pela cultura manteve-se inabalável. Com uma diferença: naqueles tempos, como a nação era muito jovem, falava-se em “edificar a pátria” – seja lá o que se pudesse pretender sob este lema. Ainda assim, nunca existiu um projeto cultural objetivo implantado pelo Estado.

Sim, na ditadura de Vargas foi formulado um projeto de extrema consistência; aliás, em grande parte a chamada revolução do teatro moderno, para muitos liderada por Ziembinski, nasceu deste projeto. Não se costuma valorizar esta condição – logicamente, a ação estatal possuía um cálculo político certeiro, o cálculo cultural se apresentou quase por acidente. Por isto o teatro moderno nasceu fraco, praticamente tísico… e foi tossindo a fraqueza dos pulmões por toda a vida!

A repetição do velho tema não deseja funcionar aqui como refrão batido de marchinha de carnaval, apenas para esquentar os ânimos. Lembrar estes dados, mesmo que rapidamente, é fundamental para valorizar a comemoração do quarto aniversário do Teatro Prudential. No meio de tantas instabilidades, cercados por fatos desanimadores, enfim uma luz e um motivo para embarcar num completo clima de festa.

E é bom se preparar: a festa vai ser festa de rei, vai durar um mês, com atividades para todos os gostos, ampliando a força da cena para atingir as formas musicais. Afinal o Teatro Prudential nasceu com esta marca diferenciada: a vocação para celebrar o melhor teatro, em prosa, verso e música.

Assim, os festejos começaram na semana passada com apresentações do musical Soul Diva,  com Leticia Soares, Lilian Valeska e Priscila Araújo. A proposta foi concebida como uma celebração da força e da importância da mulher. Sob a direção geral de Letícia Soares  e direção musical de Tony Lucchesi,  a cena se fez como lugar de canções dedicadas ao poder feminino – para abrir o mês de maio, a escolha soa perfeita…

A seguir, a comemoração contará com a estreia de uma encenação teatral histórica, um trabalho de palco daqueles de tirar o fôlego, teatro de verdade. Chega ao Rio a aclamada encenação paulista de Longa Jornada Noite Adentro, considerado por muitos estudiosos o texto mais impactante de Eugene O Neill (1888-1953), uma das colunas mestras do teatro do nosso tempo.

A peça tem uma história cênica preciosa: tornou-se um hábito teatral luxuoso a montagem do texto a cada geração, celebrando atrizes de colorido teatral arrebatador. As grandes montagens históricas brasileiras consagraram a força cênica de atrizes ímpares, cabeças de geração. O grande time conta com Cacilda Becker, Nathália Timberg  e Cleyde Yáconis. Agora o redemoinho de sensações  que estrutura Mary Tirrone estará corporificado em Ana Lúcia Torre, decididamente uma das maiores atrizes brasileiras da atualidade. É programa imperdível.

Ainda que o texto com frequência seja definido como drama, o colorido lancinante de dor familiar e falência subjetiva força o seu reconhecimento como tragédia moderna, algo bem mais contundente para a sensibilidade ocidental do que a singela etiqueta de drama burguês. A inspiração autobiográfica, a presença do mundo teatral no qual o ator viveu graças à carreira de sucesso do pai, James O Neill, tornam o original obrigatório para as grandes atrizes em que a temperatura trágica é um caminho expressivo natural. E, logicamente, para todas as almas que se sentem em diálogo com o fato de existir.

Sob a direção de Sergio Módena, inclinado a ver a trama sob um prisma um tanto mais além do que o limite do desenho realista, com cenários, de André Cortez. e figurinos, de Fabio Namatame, pensados para a atemporalidade, a aposta parece clara – um belo acontecimento teatral estará em cena, para perguntar a cada um exatamente o que faz com a própria vida. A ficha técnica toda é luxuosa.

Luciano Chirolli.

Na sequência, a festa se completará com uma programação de acentuado sabor carioca – o cantor Paulinho Moska assina uma apresentação musical com instrumentos construídos a partir de madeiras retiradas do incêndio do Museu Nacional. Um registro emocionante da história da confecção dos instrumentos está  no documentário Fênix – O voo de Davi, com roteiro de Vinícius Dônola e direção de João Marcos Rocha e Roberta Salomone, acessível no Globoplay. No show, serão apresentados em telão os primeiros 15 minutos do filme, seguindo-se a performance musical, com grandes sucessos de sua carreira.

Paulinho Mosca.

Bom, vale a pena prevenir o coração, avisar que a temperatura sentimental vai ferver. Outro momento emocionante da festa será o show Caymmise. Danilo Caymmi, Juliana Caymmi e Márcia Tauil estarão reunidos no palco para cantar a beleza e a emoção do maior poeta do mar da canção brasileira, Dorival Caymmi. O carinho da família deverá ser uma ferramenta hábil para o tom de aconchego do coração, ingrediente essencial da pauta do compositor.

Danilo Caymmi, Juliana Caymmi e Márcia Tauil

Finalmente, para fechar as comemorações com tons poéticos e musicais inesquecíveis, a casa abrigará o show Dois Franciscos, sucesso de crítica no ano passado, dirigido por Flavio Marinho. A proposta intimista e delicada reúne Olivia e Francis Hime num passeio musical pela parceria entre Franis e Chico Buarque. Há na empreitada um outro festejo: a comemoração dos 50 anos da primeira parceria da dupla, a canção Atrás da Porta. Com tantos motivos de festa, o roteiro original sofreu algumas modificações, para emocionar ainda mais as plateias.

Olivia e Francis Hime.

O anúncio deste evento tão positivo para os corações sofredores da vida teatral brasileira não poderia ser encerrado sem alguns comentários adicionais. O Teatro Prudential possui um desenho de palco arrojado, reversível, capaz de viabilizar a acomodação do público na área externa, ajardinada. Isto significa um olhar generoso para inventividades modernas.

Mas há por ali também um fabuloso passado. A casa preserva, remoçado, o antigo Teatro Adolpho Bloch, que passou uma longa temporada fechado, depois de ter sido um palco de alto padrão na vida cênica do Rio.

Além disso, com um café e uma galeria de arte em funcionamento, ele extrapola o conceito simplório de casa teatral. A bem da verdade, há ali um centro cultural moderno, atento às melhores tradições do passado, em sintonia fina com o presente e devotado à percepção dos sinais do futuro. Portanto, acalme-se. Há esperança. Se o seu coração teatral sofre, busque um acalanto, corra para festejar a beleza que é contar com o Teatro Prudential.

FICHA TÉCNICA:

Texto: EUGENE O´NEILL

Idealização, Tradução e Direção: SERGIO MÓDENA

Música Original: MARCO FRANÇA

ELENCO:

ANA LUCIA TORRE – Mary Tyrone

LUCIANO CHIROLLI – James Tyrone

GUSTAVO WABNER – Jamie Tyrone

BRUNO SIGRIST – Edmund Tyrone

MARIANA ROSA– Cathleen

Cenário ANDRE CORTEZ

Figurino FÁBIO NAMATAME

Iluminação ALINE SANTINI 

Diretor Assistente LURRYAN NASCIMENTO

Assistente de Cenário MARISTELLA PINHEIRO

Visagista DHIEGO DURSO

Cenotécnico TIBÚRCIO PRODUÇÕES

Coordenação de Comunicação BETH GALLO

Assessoria de Imprensa – MORENTE FORTE – THAIS PERES

Programação Visual VICKA SUAREZ

Fotos PRISCILA PRADE

Filmagem JADY FORTE

Redes Sociais e Textos ANA PAULA BARBULHO

Coordenação Administrativa DANI ANGELOTTI

Assistência Administrativa ALCENÍ BRAZ

Assistente de Produção REBECCA MOMO

Administradoras da temporada MAGALI MORENTE e ALCENÍ BRAZ

Produção Executiva MARTHA LOZANO

Produtoras SELMA MORENTE e CÉLIA FORTE

Uma produção Morente Forte 

Realização Ministério da Cultura

 SERVIÇO

Teatro Prudential

Rua do Russel, 804 – Glória

COMPRAR INGRESSO

https://site.bileto.sympla.com.br/teatroprudential/

12 a 28 de maio   –   Longa Jornada Noite Adentro 

 Sexta a domingo: 

Sextas e Sábados às 20h; Domingo às 17h –

Link para compra de ingressos:

https://bileto.sympla.com.br/event/82605/d/193117

17 de maio –  Paulinho Moska e os Violões Fênix do Museu Nacional – Quarta-feira, 17 de maio às 20h – Link para compra de ingressos: 

18 de maio – Caymmi-se com Danilo Caymmi, Juliana Caymmi e Márcia Tauil – quinta-feira, 18 de maio às 20h – Link para compra de ingressos: 

25 de maio –  Olivia e Francis Hime apresentam Dois Franciscos – Quinta-feira, 25 de maio, às 20h – Link para compra de ingressos: