Presente de Rei, absoluta majestade

 
Gente, vale juntar a família, preparar os drinques e vigiar a pressão do povo da terceira: o Especial de Fim de Ano de Roberto Carlos está de arrasar corações. Para não diluir o impacto das emoções, a saída fica como sempre, ao contrário da lei máxima do jornalismo – vamos manter segredo. Mas nem tanto, alguma coisa precisa ser revelada, pois quem avisa amigo é, os distraídos precisam saber que vale a pena agendar o programa.

 

A primeira revelação passa pelo gostinho de quero mais: sim, Roberto Carlos tem garra de mestre de cerimônias, poderia voltar a fazer um programa de televisão permanente, de músicas e variedades, seria um grande sucesso, uma reconquista de espaço para a MPB e um soco mortal na mesmice da grade. Bem dirigido, com um bom texto, o Rei demonstrou o que é ter charme, carisma e domínio de cena. Absoluta majestade, se poderia proclamar na corte.

 

A segunda revelação aponta algo importante para a história da TV e para a hipótese de criação de programas na linha musical: ficou patente a maleabilidade da estrutura tradicional do RC Especial. O conceito do programa gira ao redor do apresentador, mas este movimento significa um olhar para o mundo. Portanto, o formato sintoniza com delicadeza a biografia, mas aposta mesmo na revisão do ano, o que permite enveredar por referências de carreira e inserção de canções, dezessete canções, no caso, ao lado da citação de alguns acontecimentos de arte de destaque. Em lugar de ser uma forma engessada, o caminho significa agilidade, liberdade de criação. Porque a estrutura reage de forma inteligente diante dos fatos abordados: ponto para os roteiristas Flávio Marinho e Marcel Souto Maior.

 

Assim, o Rei falou de sua carreira em dupla chave, um pouco de sua história artística e um panorama de fatos recentes, o foco em especial sobre a bem sucedida turnê internacional. A este registro, resolvido com muita inteligência, acrescentou-se uma lista de convidados de repercussão na TV e na arte neste ano (ou sempre!). Se considerarmos ainda o rol dos efeitos técnicos e o alto nível profissional da gravação, dá para avaliar a qualidade da equipe reunida. Provavelmente um produto para exportar. Dos músicos ao regente, maestro Eduardo Lages, passando pelo vocal de apoio e pela extensa rede de técnicos, o que se viu foi um profissionalismo do mais alto padrão.

 

E aí, ninguém duvide, a noite se consagrou em acertos. Para definir o que aconteceu, vale o gritinho eufórico da fã ao meu lado: “Ai, Roberto!”… Para não desandar o impacto, não impedir outros gritinhos pelos lares afora, o melhor é reduzir os comentários. Assim, a saída é apresentar um resumo impiedoso do show, centrado em apenas dois convidados de absoluta sedução, sem desmerecer a grandeza dos demais.

 

Primeiro, o Comendador da novela Império, Alexandre Nero, que não apareceu de preto. Ele encantou a plateia num figurino impecável de gala azul e num dueto surpreendente, afinado, irresistível em particular para as damas, calcado na brincadeira com o charme galanteador masculino mais inebriante. Depois, um outro dueto histórico com Alcione, deusa da canção, senhora de nossos corações, a delícia de ter a potência de sua voz numa versão sublime de The way you look tonight, seguida de Desabafo. O contraste entre as duas vozes garantiu uma apresentação de extrema qualidade musical. Ai, meus sais, diria Cleópatra.

 

A direção, de Raoni Carneiro, foi uma grande aliada para o resultado conquistado – imprimiu um clima afetivo, descontraído, natural, um meio eficiente para que os quadros fluíssem de forma contínua. O figurino, sempre numa paleta ao redor do azul, branco, prata, irradiava uma atmosfera de comemoração, reagia bem sob os incontáveis efeitos de luz. O saldo natural se instalou na cena: um tom de evento festivo familiar.

 

Então, vamos lá, a notícia não podia ser melhor: neste dezembro que se anuncia muito calorento no Rio de Janeiro, tenso no Brasil por incertezas cruéis dos rumos da vida pública do país, engarrafado por aqui e pelo mundo, crivado de guerras, próspero em tantas destruições fratricidas, surge um espaço de calmaria para desejarmos Boas Festas, um bom ano novo. Fiquemos juntos com alguma felicidade por um momento. Enfim, aquela coisa toda que a gente só pode esperar de um Rei, um legítimo Rei: preparem-se, o Especial vem com tudo por aí. Salve Majestade!

Fotos: G1 e GShow