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A Humanidade em Festa

 
Pode ser que você saiba explicar a marcha do mundo, a essência da vida, a densidade dos seres e a identidade dos contemporâneos ao nosso redor. Na verdade, não sabe, você é apenas impotência, pálida sombra entre sombras, pura pretensão. Você não sabe nada, mesmo quando acha que sabe: a cegueira inconsciente arrogante é o último limite, castrador, ainda em pauta para reduzir a potência de cada ser humano, transformar a vida em trajeto mecânico, voo no vazio. Há um jogo de poder sedento para transformar o sujeito em massa de manobra, este é o sentido da nossa época.

 

Por isto, você e eu e todos, cada um, na multidão, cabeças ocas de um rebanho, somos apenas atos anônimos hesitantes, desprovidos de razão, distantes de qualquer poder além da gestão miúda do cotidiano. A constatação, violenta, é para rir – e você pode vê-la no palco numa comédia. Não se trata de uma comédia para o riso franco, como na comédia de costumes, mas, antes, uma comédia para se espantar, rir de medo: trata-se de uma comédia de ameaça.

 

Ficou curioso? Pois vá ver A Festa de Aniversário, de Harold Pinter (1930-2008), em cartaz no Teatro Poeira, excelente direção de Gustavo Paso, programa teatral imperdível, um dos cartazes obrigatórios da temporada. É aquele teatro sério de qualidade, de alto coturno. Vá ver.

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