Teatro se aprende na escola?…
Você esteve na escola. Aprendeu algo, além de comer merenda. E guardou um bocado de coisas: acumulou as preciosas moedas do saber, adquiridas por lá, recolheu recortes de vida para organizar um delicado baú de memórias. Escola também é afeto.
Antigamente, esta semana era de festa: começavam as férias de julho, um mês de estripulias. A escola ensinava a amar as férias… A criançada se acabava de brincar, as mães se desdobravam para resolver a agenda apinhada de tempo livre. Para quem tinha dinheiro, as colônias de férias eram uma solução estratégica. Escoteiros e afins faziam a felicidade de muita gente.
Atualmente, a folga no meio do ano baixou de tamanho, o descanso é quase um susto. Mas ainda existe uma atmosfera de festa escolar no período. No teatro, a água ferve. Surgem as provas de final de curso, uma bela oportunidade para ver teatro, às vezes com ingressos a preços baixos ou mesmo grátis, com textos de fôlego, obras caras, nem sempre correntes na cena comercial….
Vale explicar: os cursos obedecem a uma estrutura semestral. Assim, a temporada de encenações marca o final dos dois períodos letivos do ano. Em cada turma, o número de alunos é razoável, portanto é fundamental escolher para as montagens textos de grande estrutura dramatúrgica, com muita gente em cena.
Claro, a cena musical desponta como exceção, pois nesta faixa do mercado as grandes montagens ainda acontecem. No universo dos textos dramáticos, contudo, as escolas de teatro surgem como a esperança para que se possa ter encenações de Shakespeare, Ibsen, Tchekov, Brecht, Artur Azevedo, Jorge Andrade – quer dizer, os clássicos hoje dependem visceralmente das escolas. Na cena teatral profissional, morrem à míngua.
Nas provas de direção dos alunos, a escolha de grandes textos pode ser a chance de ouro para enfrentar o grande teatro, oportunidade que se tornará rara no mercado, após a formatura. Para os atores em formação, também será difícil encontrar tais desafios no mercado. De toda a forma, as montagens teatrais escolares fogem do padrão monólogo-cena mínima, a forma mais difundida, hoje, na nossa cena profissional. Conseguimos chegar à estranha marca de contar com grupos de teatro integrados por um, dois ou três participantes!
Vale destacar a ironia: na história do teatro, as escolas dedicadas ao ensino da arte são invenções recentes. A estrutura da linguagem da arte, do século XVI ao século XVIII, possuía uma estabilidade tal que o seu domínio era conquistado muito mais através do fazer.
A rigor, só a partir do século XIX o ensino do teatro começou a se difundir; nos primeiros tempos, quer dizer, até o início do século XX, as aulas de teatro giravam ao redor das convenções e leis da cena. O candidato a ator estudava determinados papéis, trabalhando as formas vocais de leitura, a caracterização das paixões e a marcação convencional do movimento. Portanto, as apresentações tendiam a ser monologais.
As condições limitadas do processo de ensino e de aprendizagem nasciam do teatro do tempo. A cena era movida por palavras. Logicamente, não era fundamental frequentar uma escola, a arte poderia ser aprendida na própria cena. Neste caso, o ator começava em papéis menores e, de acordo com o seu talento, ascendia ou não algum grau acima.
No Brasil, a primeira escola surgiu apenas no século XX – a atual Martins Pena. A sua peculiaridade maior é digna de destaque – de 1908 até hoje, a escola, pública e gratuita, funciona como escola técnica, quer dizer, não se transformou em curso universitário. É a única no país com este perfil, pois as outras que surgiram com esta dinâmica, a EAD, em São Paulo e a CAL no Rio, por exemplo, incorporaram a titulação universitária ao seu estatuto, ao lado do curso profissionalizante.
No Tablado, ainda que a possibilidade de se tornar universidade não tenha sido nunca um projeto de Maria Clara Machado, a dinâmica de curso livre distanciou sempre a escola das exigências oficiais de regulamentação. Talvez um pouco como projeção das práticas do escotismo (Maria Clara Machado foi bandeirante), o Tablado se tornou célebre como escola livre de atores, com muito foco na prática da improvisação.
Difícil fazer um inventário rápido do panorama de ensino de teatro no Rio de Janeiro hoje. A medida, porém, seria muito oportuna, as escolas se tornaram centros pulsantes de produção de arte e de pensamento a respeito da arte. Como o número de escolas cresceu de forma exponencial, vale a pena acompanhar as atividades de cada uma através dos sites e das diferentes plataformas on-line. A busca permite saber o calendário de atividades oferecidas ao longo do ano.
No momento, a grande novidade é a temporada de espetáculos dedicados à comemoração dos dez anos do CEFTEM, a única instituição especializada no estudo do teatro musical no Rio de Janeiro. O Festival CEFTEM de Teatro Musical vai levar ao palco do Teatro Riachuelo – casa de excelência para o gênero – três grandes montagens. São três belos trabalhos. Vale a pena conferir. A escola já produziu mais de 50 espetáculos e atrai nomes experientes do musical brasileiro para as suas rotinas.
O primeiro espetáculo será Nossa história através dos musicais, uma coletânea de cenas de montagens produzidas ao longo dos dez anos de atividades. A seleção inclui espetáculos icônicos, tais como: Matilda, Hairspray, Les Misérables. Nomes já consagrados no gênero participarão da noite – André Dias, Helga Nemetik, Evelyn Castro, Hugo Bonemer…
A comemoração seguirá com a apresentação de Cazuza – Pro dia nascer feliz, O Musical. A trama mescla a história da vida de Cazuza com a atmosfera dos anos 1980 no Rio de Janeiro, registra a sua infância, a juventude inconsequente e libertária, o seu trágico fim. Grandes sucessos criados por ele pontuam a cena – Bete Balanço, Exagerado, Ideologia, O Tempo Não Para.
O circuito festivo será encerrado com Cartas para Gonzaguinha, o musical. O trabalho, também um musical biográfico, estará em cena com 18 atores, numa demonstração de potência digna de nota – ele estreou como prática de montagem, de conclusão de curso, alcançou enorme sucesso, ao ponto de se tornar uma produção profissional. Depois de várias temporadas cariocas e pelo país, o espetáculo está completando cinco anos de existência, um marco de extrema importância na história do musical brasileiro.
Ao lado da formação para musical, profundamente técnica, dotada de exigências objetivas incontornáveis, a formação em teatro, em geral, lida profundamente com o refinamento da sensibilidade, da percepção e da expressão humana. A difusão do estudo do teatro mais adiante dos muros das escolas de teatro com certeza pode contribuir para a formação de pessoas melhores, favorece a diluição do clima de peste social que paira sobre sociedades emergentes, sujeitas a um ritmo acelerado de transformação.
Acompanhar as atividades das escolas de teatro, então, se torna uma porta de oxigenação importante. Estimular a circulação dos espetáculos jovens, abrir espaços para que conquistem a cena maior ao redor, significa apostar na transformação de valores sociais inefáveis – eles precisam ser tratados com urgência, para ampliar a nossa maior fortuna comum, o nosso compromisso com a densidade humana do mundo. Talvez não se aprenda teatro na escola, quem saberá responder? Mas, convenhamos, o teatro na escola com certeza nos ensina a ser pessoas melhores.
Festival CEFTEM de Teatro Musical
Nossa História Através dos Musicais
Teatro Riachuelo Rio
Quarta-feira, 5/7
Data: 5 de julho de 2023 | Quarta às 20h
Vendas presenciais: Plateia VIP R$ 150 | Plateia e Balcão Nobre R$ 100 | Balcão Simples R$ 50
Lotação presencial: 999 lugares
Classificação: livre
Duração: 120 minutos
Link para vendas:
Datas: 8 a 16 de julho
Vendas presenciais: Plateia VIP – Entre R$50 e R$100 | Plateia – Entre R$ 35 e R$ 70 | Balcão Nobre – Entre R$ 30 e R$ 60 | Balcão Simples – Entre R$ 19, 50 e R$ 39
Lotação presencial: 999 lugares
Classificação: 14 anos
Duração: 150 minutos com 15 minutos de intervalo
Link para vendas:
Cazuza – Pro dia nascer feliz, O Musical
Ficha técnica
Texto: Aloísio de Abreu
Direção: Stella Maria Rodrigues
Direção Musical: Cláudia Elizeu
Coreografia: Quéops
Serviço:
Datas:
08
de julho, 16h
09 de julho, 16h
14
de julho, 20h
15 de julho, 16h
16 de julho, 16h
DURAÇÃO: 150 minutos com 15 minutos de intervalo
CLASSIFICAÇÃO: 14 anos
Teatro Riachuelo Rio
Rua do Passeio 38 – Centro – Tel: (21) 99566-7469
Assessoria de imprensa: MNiemeyer Assessoria de Comunicação
Cartas para Gonzaguinha, o musical
Texto: Tiago Rocha
Músicas: Luiz Gonzaga Jr (Gonzaguinha)
Direção: Rafaela Amado
Direção musical, arranjos e idealização: João Bittencourt
Direção musical residente: Guilherme Borges
Pesquisa de Dramaturgia: Nanan Gonzaga
Serviço:
Datas:
– 08/07 (sábado), às 20h
– 09/07 (domingo), às 20h
– 15/07 (sábado), às 20h
– 16/07 (domingo), às 20h
Teatro Riachuelo Rio
Rua do Passeio 38 – Centro – Tel: (21) 99566-7469
Assessoria de imprensa: MNiemeyer Assessoria de Comunicação