Festival de Curitiba: a matéria profunda de todos nós

Crítica feita durante o Festival

 
Não percebemos, mas a nossa vida se esvai em um fluxo contínuo, infinito, como uma névoa perdida bailando sobre um antigo cais. Acreditamos saber quem somos, confiamos que somos as nossas lembranças, mas a memória se faz por fragmentos irrecuperáveis, um jogo sentimental a um só tempo rude e delicado, um redemoinho doce em que se perde a vida. Um sopro primeiro, antigo, talvez explique quem somos. Mas nós o mantemos soterrado sob pesadas camadas de ilusão. Ou de quinquilharias.

 

Sim, deve ser esta a chave do encanto de Cais – ou da indiferença das embarcações, um trabalho antológico de Kiko Marques. A inspiração clara para a formulação da encenação tem duas origens, dois eixos diferentes nortearam a sua concepção. O primeiro, a peça escrita por Kiko Marques, cuja composição foi iniciada em 2006. O segundo, o espetáculo Les Ephémères, de Ariane Mnouchkine, apresentado em São Paulo em 2007. Portanto, um projeto dotado de maturidade.

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