O teatro do nosso tempo

 

 
Somos nada, somos pó. Somos apenas selvagens migalhas pensantes nômades sem salvação: esta é a nossa radiografia mais nítida. Duvida? Pois vá ver a excelente encenação de Adorável Garoto, de Nick Silver, cartaz do Mezanino/Sesc Copacabana. Poucos textos conseguiram, até agora, registrar com tanta densidade a percepção da sensibilidade humana no século XXI. É imperdível, de saída, por este motivo simples – está em cena o teatro do nosso tempo. O que significa uma alquimia surpreendente, chocante mesmo, de humor e drama, razão e sensibilidade, nihilismo e desesperada tentativa para defender o valor da existência humana. Seres de carne, de representação e de mentira vagam pela cena. Marionetes existenciais. Em meio ao riso, sagaz e inteligente, você leva um banho de soda cáustica. Na alma.

 

A montagem marca a estreia de uma revelação luminosa, uma nova diretora, um nome que se encaminha para integrar a lista dos mestres maiores do nosso palco: Maria Maya. Atriz intensa, de amplos recursos expressivos, ainda que jovem, ela conduz a cena com delicadeza e densidade, obteve um ritmo derivado diretamente do calor das emoções, pois olha o palco a partir do ponto de vista do ator.

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