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Nas asas da solidão

“A frase é conhecida – ninguém admite que uma verdade venha dinamitar a sua ilusão, detonar as suas quimeras. Ela teria sido formulada por Nietzsche. E ganhou o mundo, pois parece mesmo muito difícil aceitar a acusação de se submeter de corpo e alma a um projeto inconsistente, que se esfuma sem deixar traços. Formar na fileira do arbitrário é muito doloroso para a mente humana. Aceitar que um doce sonho acalentado com carinho era um engodo, deslavada mentira, é vergonhoso.

 

Sim, estou falando do teatro brasileiro, que vai se esvaindo acelerado. Um sonho desfiado pela lâmina sibilante do tempo. Parece que acreditávamos num edifício de papel, um castelo de areia, algo que de verdade nunca existiu. Registre-se a ressalva: para quem estuda a história do teatro brasileiro, o processo vem de longe, não é de agora. Não dá para procurar o problema embaixo da cama, ao menos para quem deseja entender verdadeiramente o que acontece.

 

De certa forma, o teatro brasileiro nasceu torto e seguiu torto pela vida, estrebuchando sempre. Quando o palco era a arte do mundo, movia a sociedade, ainda era fácil ativar a cena nacional, supor que ela contava com alguma vitalidade, disfarçar o abismo. Mas, a partir do ocaso social da arte, em especial na nossa época, o quadro do teatro brasileiro se tornou cada vez mais difícil. Há hoje uma multidão que adora o celular, não vive sem ele, mas não vai ao teatro nem de graça. O teatro desencantou. Dançou tanto na beira do abismo que despencou.

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