Fiapos de nada
Um oco cintilante nos mantém em suspenso: inventamos a civilização do vazio. Um espaço etéreo, alienado da chance de ser, intensamente branco, preenche o nosso olhar e nos une – eles, os atores, e nós, a plateia. A relação palco e plateia, contudo, não é rompida, estamos distantes, dentro de um teatro, para ver teatro, ainda que a ação comece como se estivéssemos dentro dela. A ação pretende lançar no espaço, em suspenso, as nossas almas, para nos levar a perguntar sobre a densidade do existir e do ser.
A função da noite é mais do que nobre – em cena, está esta joia de dramaturgia sublime, Nerium Park, de Josep Maria Miró, na concepção de um diretor poeta dotado de uma assinatura incandescente, Rodrigo Portella. A temporada acaba amanhã, no Teatro Glaucio Gill, corra para ver, não perca por nada deste mundo. É teatro em tom maior, com uma encenação brilhante de um daqueles textos em que há o propósito intenso de indagar sobre as razões do nosso tempo.