
Anunciaram que o carnaval acabou e que a vida, de volta aos trilhos, vai brilhar intensa como positividade. Nada de lantejoulas ou paetês, apenas vida pura vida. Ora, sem sofrimentos, a vida não precisa, certamente, abrir mão do sonho: o velho e bom teatro se apresenta em toda a sua forma para garantir este direito milenar. Acabou o carnaval, o teatro voltou com o seu cortejo de sonhos de alma.
É curioso como, no Brasil, as relações históricas entre carnaval e teatro foram tecidas. Primeiro, eram primos distantes, ignoravam-se; a nobreza do teatro pairava muito acima do parente desprezado. Logo, contudo, o enjeitado foi se impondo num crescendo e, se não chegamos a viver no Brasil uma dramatocracia, um império teatral ao estilo francês, descrito pelo excelente historiador Jean-Claude Yon, acabamos mergulhando na carnavalcracia, digamos, regime que vigora a pleno vapor em nossos tempos.
O frenesi carnavalesco arrasta o povo pelas ruas, sustenta os grandes eventos das escolas de samba – por sinal, duvido que alguém saiba dizer quantas escolas de samba existem no Brasil. Alimenta varias modalidades de folguedo. E, numa guinada sociológica peculiar, deu origem a uma indústria curiosa: a fábrica de celebridades carnavalescas, em alguns casos celebridades instantâneas, celebridades-minuto.
Sob o reinado deste nosso carnaval atual, o teatro vegeta, quando consegue se manter de pé em algum lugar… Com o fim dos festejos generalizados e o recolhimento do carnaval a alguns nichos bem desenhados, o palco se apruma de novo, sacode a poeira e anuncia belezas. As belezas do teatro diferem bastante daquelas do carnaval. Elas, se não provocam a fuga desembestada das almas para as ruas, com certeza revolvem as formas de ser, sentir e pensar de cada individuo, renovam o acordo profundo que une a vida de todos em sociedade. Por isto se pode falar em sonhos da alma.
Portanto, prepare-se. Vem muita coisa boa por aí. Além de estreias, várias peças estão retomando a carreira. Algumas são criações de alta voltagem poética e se impõem como experiências incontornáveis. Exemplos?

Pois estão de volta ao palco algumas joias teatrais. No Teatro Poeira, há Lady Tempestade, solo de Andrea Beltrão dirigido por Yara de Novaes, sublime imersão nos diários da advogada Mércia Albuquerque, exemplar defensora de presos políticos durante a ditadura militar.
Na Casa de Cultura Laura Alvim, a excelente encenação de A palavra que resta, assinada por Daniel Herz com a Cia Atores de Laura, transforma o livro do autor Stênio Gardel em requintada descoberta das brutalidades da vida no país, sob uma forma a um só tempo jogral e ensolarada.

Também no Teatro Poeira, o horário alternativo oferece ao público o privilégio de enveredar pelo universo criativo requintado de Lygia Fagundes Telles. Em Senhor diretor, Analu Prestes, sob uma direção de pura artesania de Silvia Monte, materializa a solidão e o espanto de uma senhora professora aposentada diante da passagem do tempo.

Uma novidade, carioca da gema, é a agitação que vai sacudir a Sede da Cia dos Atores, uma casa na Escadaria do Selarón, na Lapa, um dos pontos turísticos mais visitados do Rio de Janeiro. A partir do dia 14 de março, a casa será a Sede Viva, um projeto com espetáculos, leituras e festas em cartaz até o fim de 2025. A curadoria tem a assinatura do ator e diretor Cesar Augusto. A lista de atrações, muito variada, tem o seu ponto mais curioso na Panorâmica Jô Bilac, uma visita aos sucessos da obra do dramaturgo carioca. A proposta inovadora foi desenvolvida por participantes do projeto Residentes da Sede ao longo do ano passado.

A panorâmica de peças promete fazer sucesso, em particular junto ao público jovem e amante do teatro experimental. Entre os dias 14 e 16 de março, com direção de Cesar Augusto e Marcelo Olinto, tendo como provocadora convidada a atriz, diretora e autora Inez Viana, haverá um autêntico desfile teatral de peças, pois serão apresentadas cenas inspiradas nos textos Alguém Acaba de Morrer lá Fora, Cachorro!, Conselho de Classe, Fluxorama, O Matador de Santas, Os Mamutes, Sonho de Miss e Infância, Tiros e Plumas.
De certa forma, trata-se de uma festa teatral; a casa criada pela Cia dos Atores, agora com vinte anos de idade, pretende ampliar o seu papel como ponto de encontro de artistas, viabilizando formação, informação, troca de experiências e estimulo aa inventividade. Seria, de certa maneira, a transformação da casa numa modalidade de barracão teatral, primo dos barracões das escolas de samba.
Há algo mais: além do retorno ao palco de peças que merecem mesmo cumprir longas temporadas e da festa teatral da Sede da Cia dos Atores, chega de São Paulo uma encenação com um gosto remoto de carnaval. É a montagem de Insignificância, texto de Terry Johnson, dramaturgo, diretor de teatro, cinema e televisão. O celebrado dramaturgo inglês, que iniciou a carreira teatral como ator, conquistou diversos prêmios; em 2010 ele recebeu o prêmio Tony de Melhor diretor de musical pela direção de A gaiola das loucas, situação que o torna bastante diferenciado, por seu amplo trânsito no universo da cena.

O texto, de 1982, transformado em filme em 1985, lida com um tema que justamente tem feito o delírio do carnaval carioca: a aclamação de celebridades. A trama narra um encontro hipotético, num hotel de Nova Iorque, entre quatro lendas humanas norte-americanas. O foco é objetivo: discutir os efeitos da fama na vida de cada um, conforme o esforço ou o mérito para conquistar a láurea. Mas o tratamento é, digamos, indolor: trata-se de uma comédia, ainda que revestida por aquela irresistível acidez britânica.
Estão reunidos em cena a estrela Marilyn Monroe, que fez o mundo delirar por ela, o cientista Albert Einstein, cuja Teoria da Relatividade foi fundamental para a criação da bomba atômica, o jogador de beisebol e marido de Marilyn Joe DiMaggio, atestado de prestigio fugaz, e o destrutivo senador Joe McCarthy.
O encontro funciona como um meio muito hábil para situar as oscilações humanas diante da fama – se o cientista se sente incomodado com a popularidade, ela leva a atriz a hesitar diante do clamor geral ao seu redor e faz o jogador mergulhar em sentimentos sombrios com a perda de sua projeção. De sua parte, o senador, arquiteto do macartismo, corrente politica ultrarreacionária de caça aos comunistas e ao ideário humanista na guerra fria, se consagrou como alguém capaz de destruir pessoas. Uma pergunta inquieta envolve o jogo cênico – qual o sentido final de toda a corrida para se tornar celebridade?

A montagem desembarca no Rio no dia 14 de março próximo, para ocupar o elegante Teatro Adolpho Bloch com uma ficha técnica de alto calibre. A tradução foi assinada por Gregório Duvivier, a direção tem a chancela de qualidade profissional de Victor Garcia Peralta. O elenco reúne Cassio Scapin, Amanda Acosta, Marcos Veras e Norival Rizzo. Portanto, é imperdível. Um bom programa para tratar de dar adeus ao carnaval, repensar os excessos celebratórios da folia e, afinal, botar a vida nos trilhos outra vez, nem que seja até o ano que vem…

Ficha Técnica
Elenco: Cassio Scapin, Amanda Acosta, Marcos Veras e Norival Rizzo
Autor: Terry Johnson
Tradução: Gregório Duvivier
Direção: Victor Garcia Peralta
Produção: Rodrigo Velloni
Diretor Assistente: André Acioli
Cenário: Chris Aizner
Direção de Imagem: André Grynwask e Pri Argoud (Um Cafofo)
Música Original: Marcelo Pellegrini
Iluminação: Beto Bruel
Figurinos: Fábio Namatame
Designer Gráfico: Peu Fulgencio
Consultoria de Movimento: Vivien Buckup
Fotos de Estúdio: Jairo Goldflus
Fotos de Cena: João Caldas
Visagista: Claudinei Hidalgo
Perucas: Atelier San Roman
Produção de Objetos: Jorge Luiz Alves
Pesquisa e Consultoria Histórica: João Victor Silva
Produção Musical: Surdina
Assistência e Programação de Luz: Pajeú Oliveira
Operação de Luz: Melissa Oliveira
Painel de Led e Gerenciamento de Vídeo: On Projeções
Diretor de Palco: Jones de Souza
Contrarregra: Eduardo Portella
Camareira: Luciana Galvão
Vestido Atriz: Juliano Queiroz
Alfaiate: Agenor Domingos
Assistente de Maquiagem: David Lenk
Cenotecnia: Casa Malagueta
Equipe de Cenotecnia: Alício Silva, Giorgia Massetani, Cleiton Willy, Demi Araújo, Igor B. Gomes, Mariana Maschietto, Shampzss e Danndhara Shoyama
Produção Executiva: Swan Prado
Assistente de Produção: Adriana Souza
Assistente de Designer Gráfico: Daniela Souza
Assessoria de Imprensa: Vicente Negrão Assessoria
Captação, Criação de Conteúdo e Mídias Sociais: GaTú Filmes
Anúncios Online: Lead Performance
Assessoria Jurídica: Martha Macruz
Gestão Financeira: Vanessa Velloni
Realização: Velloni Produções Artísticas
Patrocínio: Fórmula Natural
Copatrocínio: Alberflex e Rehau
Apoio: Instituto Adimax e Competition
Serviço
Insignificância – Uma Comédia Relativa
@insignificancia.teatro
Temporada: 14 de março a 06 de abril
Sextas e sábados às 20h; domingos às 18h
Ingressos:
Plateia A: 130,00 / 65,00 (meia)
Plateia B: 40,00 / 20,00 (meia)
Vendas: https://www.ingresso.com/espetaculos/insignificancia

SEDE VIVA
Ficha técnica espetáculo “Panorâmica Jô Bilac”
Direção: Cesar Augusto e Marcelo Olinto
Provocadora: Inez Viana
Elenco: Bernardo Pupe, Caique Ordeno, Camila Olivieri, Cristtiane Rocha, Hugo Souza, José Caetano, Julia Raposo, Luciana Maia, Madu Almeida, Malu Costa, Nina Sartes, Marcos Velasch, Rômulo Chindelar, Talisha Ribeiro e Wesley May
Produção: Breno Sanches e Carolina Godinho
Idealização: TERRITÓRIO Cursos e Eventos & Cia dos Atores
Ficha técnica espetáculo “Uma Ação contra um Terceiro”
Direção e roteiro: Ricardo Santos
Assistência de direção: Fabio Alavez
Direção musical: Rodrigo Marçal
Figurinos: Maddu Costa
Ambientação de luz: Eugénio Oliveira
Design gráfico e vídeos: Murillo Medeiros
Participação especial: Sodré
Elenco: Ale Rosa, Alessandra Sodré, Alexandre Melo,Bruna Elia, Déborah Thomas, Fabio Alavez, Filipi Gradim, Heitor Esteves, Juliane Portella, Lucas Antenor, Lucas Paz, Luna Gámez, Mabê de Paiva, Marcelo Orofino, Pedro Nogh, Raquel Maia, Rodrigo Abadi e Zé Caetano
Ficha técnica Sede Viva
Programador: Cesar Augusto
Produtor: Rômulo Chindelar
Técnico geral: Rodrigo Mello
Serviços gerais: Carlos Eduardo da Silva (Lilinho)
Assessoria de imprensa: Catharina Rocha e Paula Catunda
Fotos: Claudia Ribeiro e Renato Mangolin
Redes sociais: Rafael Teixeira
Projeto gráfico Sede Viva: Eliz Bossi
Libras: Thamires Ferreira
Administração: Malu Costa
Bilheteria: Maddu Costa
SERVIÇO: Abertura Sede Viva Local: Sede da Cia dos Atores(Rua Manuel Carneiro, 12 – Escadaria Selarón, Lapa) Espetáculo: Panorâmica Jô Bilac Dias: 14, 15 e 16 de março. Sexta e sábado, às 20h. Domingo, às 19h. Ingressos: R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia)Ingressos antecipados:PIX: territorio@territorioartistico.com.br Enviar comprovante para o mesmo e-mail ou por whatsapp (21) 9828-13712 Leitura: “Breves Recortes sobre uma Surdez Coletiva” Dia: 26 de março, quarta, às 20h Entrada franca. Espetáculo: “Uma Ação contra um Terceiro” Dias: 28 a 30 de março. Sexta e sábado, às 20h. Domingo, às 19h. Ingressos: R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia) Instagram: @sedeciadosatores |