Uma noite de encanto e magia, um ritual em louvor aos deuses do teatro, uma festa para não esquecer: assim foi a cerimônia de entrega do Prêmio Cesgranrio de Teatro, em sua primeira edição, na noite de terça-feira, 21 de janeiro. Quem esteve presente, fez história. E o melhor de tudo, como anunciou em seu discurso o presidente do Cesgranrio, professor Carlos Alberto Serpa, o troféu veio para ficar, deseja virar tradição. Portanto, todos os detalhes da concepção do prêmio e da organização da festa foram registros eficientes deste projeto.

 

Funcionou. O fato desencadeou uma atmosfera objetiva ao redor da comemoração, perceptível já nos primeiros rumorejos da noite, ainda durante a espera da abertura do Golden Room do Copacabana Palace: algo do glamour do velho Prêmio Molière pairava no ar, ainda que a gala exuberante e hierática de outrora, de longos, smokings e socialites em profusão no Teatro Municipal, não tivesse sido exumada. Ponto para o novo prêmio, menos protocolar, mais moderno, apesar de muito chique – de saída, a festa se anunciava elegante, porém feliz e descontraída, mais quente, mais teatral.

 

E não poderia ser de outra forma, com um casal de mestres de cerimônia irresistível, a deusa da cena Marília Pêra, envolta em um longo precioso, desenhado com tal maestria que ela parecia vestida de luz, em parceria mais do que cúmplice com o galã da alma do Brasil, Miguel Falabella, esculpido na mais alta voltagem de charme, graças a um smoking digno de uma assembleia de lordes.

 

O alvo imediato foi claro – o casal entrou em cena com estatuetas do velho Prêmio Molière, preciosidades dos acervos pessoais dos dois, passaporte para brincar e para declarar com firmeza o contorno pretendido para o novo prêmio. Se existia alguma dúvida a respeito, a fala do presidente do Cesgranrio, a seguir, dissipou-a.

 

A instituição, centrada na educação, mas com um longo histórico de intervenções nos segmentos das artes plásticas e antiguidades, planeja ampliar as ações na área cultural e o teatro ocupa uma área de destaque, pois, segundo o Prof. Serpa, é “a mais nobre das artes educativas”. Assim, além da garantia de que o prêmio veio para ficar, foi anunciada a abertura, na sede da instituição, em breve, de dois teatros, um com 280 lugares e o outro com 700, além da criação de uma faculdade de teatro gratuita. As notícias ampliaram o brilho da noite.

 

Em seguida, o ritual de entrega dos prêmios, concebido de forma bastante dinâmica. Celebridades das artes do palco e da tela subiram ao palco para, após a apresentação dos indicados, proclamar os vencedores. O formato permitiu muitas emoções, pois alguns padrinhos ou madrinhas foram espirituosos, inspirados e mesmo irreverentes. Ney Latorraca, encarregado de anunciar o vencedor da categoria Melhor Ator, brincou com o fato de nunca ter sido premiado em 50 anos de carreira. Luiz Fernando Guimarães, padrinho do prêmio de Melhor texto nacional inédito, tentou atiçar a memória de Miguel Falabella a respeito de troféus do passado, do inicio de suas carreiras, mas o louro, ferino, refutou com ironia a possibilidade, remota, de ter sido colega de geração…

 

E de irreverências, brincadeiras e tiradas espirituosas, a noite se fez como um raro encontro teatral. Vencedores, convidados e indicados desfilaram pelos salões, desfrutaram da cálida brisa noturna no varandão, posaram para fotos, comentaram novidades e fofocas. Ficou claro para todos que, com o prêmio, não existe mais a chance de casal 20 no teatro. A realidade agora é de casal 50 – o par formado pela cenógrafa Aurora dos Campos e o iluminador Tomás Ribas, os dois vencedores em suas categorias. Ao dedicar o prêmio ao marido, Aurora dos Campos provocou frisson na sala, pois assegurou que o olhar dele melhorava o dela.

 

Depois, nos salões, alguns maliciosos asseguravam que Marcos Ribas, pai do jovem mago da luz, iria sair da festa diretamente para a clínica do Dr. Pitanguy, pois não conseguia desfazer o sorriso amplo da face – e o caso era grave, pois o problema afligia um dos homens mais sérios do país, o grande Escurial das colunas de turfe de outrora. Afora o caso singular da família premiada, a alegria geral era motivada pelo valor objetivo do prêmio – o vencedor em cada categoria recebeu, além do troféu desenhado por Yutaka Toyota, a quantia de 25 mil reais, o prêmio mais valioso do país.

 

Em comum com o Prêmio Shell, contudo, o Cesgranrio presta também uma homenagem a uma grande personalidade da arte. Nesta primeira edição, o escolhido foi o ator Milton Gonçalves, referência áurea das artes performativas nacionais. Destaque no teatro, no qual ingressou no Teatro de Arena de São Paulo, grupo responsável por sua formação política e engajada, Milton Gonçalves se projetou ainda no cinema e na televisão. Não foi só ator: foi um diretor de sucesso, responsável por telenovelas de grande repercussão, tais como Irmãos Coragem, Selva de Pedra, O Bem Amado. Em uma atmosfera de muita emoção, aclamado pela plateia, o ator discursou agradecido, diante do carinho e da honraria, pois recebeu a Ordem do Mérito Cesgranrio no mais alto grau.

 

Os vencedores foram escolhidos por um júri formado por jornalistas especializados, pesquisadores e profissionais do teatro: Barbara Heliodora, Carolina Virguez, Daniel Schenker, Lionel Fischer, Macksen Luiz, Mirna Rubim e Tania Brandão.

 


RESULTADO PRÊMIO CESGRANRIO DE TEATRO 2013

Melhor Figurino: Tanara Schornardie A importância de ser perfeito
madrinha: Ciça Guimarães

Melhor Cenografia: Aurora dos Campos Conselho de Classe
padrinho: Ricardo Pereira

Melhor Iluminação: Tomás Ribas Moi Lui
madrinha: Letícia Spiller

Melhor Ator: Daniel Dantas Quem tem medo de Virgínia Wolf
padrinho: Ney Latorraca

Melhor Ator em Teatro Musical: Emilio Dantas Cazuza
padrinho: Marcos Pasquim

Categoria Especial: José Dias lançamento do livro Teatros do Rio
madrinha: Carol Castro

Melhor Atriz: Zezé Polessa Quem tem medo de Virgínia Wolf
madrinha: Barbara Paz

Melhor Atriz em Teatro Musical: Laila Garin Elis, a musical
madrinha: Maria Clara Gueiros

Melhor Direção: Bel Garcia e Susana Ribeiro Conselho de classe
padrinho: Daniel Filho

Melhor Direção de Musical: Délia Fischer Elis, a musical
padrinho: Wolf Maia

Melhor Texto Nacional Inédito: Jô Bilac Conselho de Classe
padrinho: Luiz Fernando Guimaraes

Melhor Espetáculo: Conselho de Classe
madrinha: Christiane Torloni.