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Ode às Jacas

 
Odeio as jacas e as jaqueiras. Nada contra as jacas. Ou contras as jaqueiras. Elas desfrutam do meu ódio assim, assim, de graça, simplesmente. Quer dizer, é um ódio bom, irmão da tal inveja boa – o fato é que eu não gosto de jaca, desde criança. Detesto o fruto bojudo, espaçoso, do cheiro ao gosto pegajoso. Já as jaqueiras, para uma garota de quintal, como eu fui, além do pecado sem remissão de produzirem jacas, elas cometem o crime involuntário de fornecer visgo para prender passarinho, aliás um fato perdido no tempo, conhecido apenas por vagos filhos de quintais antigos, fãs de passarinhada encantada esvoaçante. Portanto, nada contra, pois afinal dá para viver sem comer jacas e visgo para passarinho virou coisa de literatura, fora da vida de hoje.

 

Tudo bem, ódio é ódio, insistiria o amigo da onça. Vale rebater: o ódio bom não me levaria a matar jaqueiras, por exemplo. Se elas são exóticas, invasoras, não me importo, até me acostumei a considerá-las como parte da paisagem nacional, como o coqueiro que dá coco ou a mangueira que dá samba. O coqueiro e a mangueira também são invasores estrangeiros.

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