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O Teatro no poder

“Um fato inegável merece o nosso reconhecimento – o Brasil é uma usina louca, permanente, de sentimentos inesperados. Surpreendentes, de verdade. Quando a criatura pensa que já sentiu tudo, lá vem o Brasil e derrama um tonel de sensações indescritíveis na alma do incauto. Haja ectoplasma, como diria o meu velho tio Raul, espírita mesa branca confesso, daqueles de não perder missa ou sessão de atabaque ou pregação de pastor. Todo verbo serve ao espírito, talvez ele dissesse, se obrigado a se explicar.

 

Mas não – o próprio deste inferno sentimental tropical é não ter explicação. A vida vai, arrasta o coração, se possível desenha um vale de lágrimas. Esta situação indefesa, desprotegida, típica de maiores abandonados, fala da solidão coletiva de uma terra em que não se resolveu a bravata colonial. Estamos ainda à mercê de donatários, devastando tudo o que aparece ao redor, às voltas com nativos incompreensíveis – é razoável que nesta altura da História ainda não tenhamos uma compreensão humana profunda sobre os nossos indígenas? Isto para não falarmos da causa negra. Nem das mulheres e dos gays. Somos senhores ferozes de uma solidão humana pobre, brutal. Cada um é menos um, pois não se reconhece em nenhum outro.

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