Amigo de fé, irmão, camarada…
Feche os olhos e pense num grande amigo. Não, não jogue o foco para a sua vida imediata. Pense grande, bem grande. Pense enorme. Procure trazer à lembrança uma figura de absoluta potência, um ser que, se ele não existisse, você não estaria aí.
Por favor, não se incline para o óbvio – não vale escolher pai, mãe, ancestrais diretos. Olhe para a História. Se você está no Rio de Janeiro e, mais sério, se você se diz carioca, vou direcionar o seu pensamento. A sua escolha só pode ser uma. O seu grande amigo de fé se chama Araribóia.
Tudo bem, não sabemos se o nome dele era mesmo este. Se você for pesquisar nos livros, para honrar a memória do camarada absoluto, vai se perder em letras. De tantos volumes, vai tirar uma lição: não sabemos o nome certo do homem. De batismo, sabemos que se chamou Martim Afonso de Sousa, homenagem ao donatário de São Vicente.
O belo historiador Vieira Fazenda, amante devoto do Rio de Janeiro, de suas antiqualhas e velharias, dedicou páginas preciosas ao índio valente. De todo o seu texto, duas conclusões são importantes. A primeira devia morar na ponta da língua de todos os cariocas: se não fosse Araribóia e seu povo, os Temiminós, o Rio de Janeiro não existiria.
Fica muito claro o papel decisivo que eles desempenharam para a derrota dos franceses e dos tamoios, nas batalhas acirradas que levaram à fundação da Muy Leal e Histórica Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. O dia 1 de março já se anuncia no calendário – é importante chamar estes heróis esquecidos para a festa.
E por que importa fazer esta lembrança, chamar a homenagem? Nós, cariocas, legítimos fruidores da obra de Araribóia, somos ingratos. Tão ingratos que sequer sabemos se existem vivos, nossos contemporâneos, descendentes dos bravos guerreiros heroicos. Já Vieira Fazenda declarava não saber se existiam. E tampouco sabemos, de verdade, como era o gentil guerreiro.
Ao que tudo indica, talvez por algum contágio legado através dos ares pelos esnobes franceses, os cariocas nasceram com um jeito prosa de ser. Gente metida a besta desde a primeira hora, logo que se viram libertos dos perigos, os habitantes da nova cidade, espraiados sob o sol da Urca ou encarapitados no Morro do Castelo, passaram a desdenhar dos formidáveis aliados da véspera.
Ao que parece, a zoação carioca se fixava nos trajes, nas maneiras, nos jeitos de ser do vizinho, habitante da Aldeia de São Lourenço, terras recebidas com absoluto merecimento para abrigar a tribo. Vieira Fazenda cita um fato narrado por frei Vicente do Salvador.
Em 1575, na cerimônia de recepção ao novo governador, Antônio Salema, a autoridade recém chegada mandou repreender o cacique por causa de sua maneira de sentar, mais tribal do que cortesã. Araribóia decidiu então não participar mais das festividades do Rio de Janeiro, recolhendo-se à aldeia, onde os seus costumes não eram alvo de repreeensão.
Um dado curioso, portanto o segundo indicado por Vieira Fazenda – a primeira Aldeia de São Lourenço não ficava em Niterói, mas sim na altura da atual Praça da Bandeira… O que levou a cidade ao nomadismo, impeliu-a a migrar para a margem oposta da Baía de Guanabara – não se sabe ao certo. Dá para imaginar que as primeiras terras eram mais valiosas. Mas é só imaginação.
Para complicar mais a cena, sabe-se que os temiminós habitaram a Ilha do Governador, terra muito estimada por eles, de onde foram expulsos pelos tamoios. E as terras de Niterói foram dos tamoios, assim como o nome Niterói, situação que sugere um estranho arranjo, quando se constata que o nome Aldeia de São Lourenço não pegou… foi devorado pelo nome tamoio!
Como pode a história de um grande amigo sobreviver assim, plena de incertezas e de oscilações? A urgência é clara: a história de Araribóia e a de Niterói precisa ser escrita, em detalhes. Precisamos saber mais a respeito destes temas, em boa parte é a história do nosso nascimento…
Na realidade, uma outra coisa está em jogo aqui. Talvez se possa falar numa nobreza de aproximação, em resumo, a busca de uma aproximação maior com a cidade irmã – a beleza da cidade não se reduz à bela vista do Rio de Janeiro que se pode ter de lá. Niterói tem uma vida cultural intensa, ao lado de um forte dinamismo econômico e de uma intensa vida social.
Uma prova objetiva – Niterói tem um festival internacional de teatro incrível, coisa que o Rio de Janeiro não tem. Então, a dica é muito objetiva: vamos curtir a festividade niteroiense. A turma responsável pelo evento tem fôlego de sete gatos – talvez porque Grande Gato, quer dizer, Maracajá-guaçu, fosse exatamente o nome do pai de Araribóia…
Logo de saída, vale contribuir com a produção, para compensar o horizonte atual de verbas devastadas, tão hostil como um feroz guerreiro tamoio do século XVI. Ou como um colonizador disposto a arrasar a terra e detonar tudo ao redor…
Portanto, apesar da festa só começar no dia 18, todos já podem começar a participar. A turma do Niterói em Cena decidiu fazer o festival no grito e o chamado é bem claro: qualquer dinheiro conta. Lá abaixo, no serviço, tem a conta para depósito.
Mas a coisa não fica nisto apenas, não – sintonizar agora com o festejo nas redes sociais significa ter acesso a divertidos vídeos de divulgação, em especial o material estrelado por @donafernandona e Renata Sorrateira (@marciomachadinho). Há um tom descontraído – e de zoação – que talvez não agradasse plenamente ao velho guerreiro. Mas, afinal, os tempos correm, as caravelas passam.
Então, conselho de amigo de fé de verdade, tipo Araribóia – não perca por nada. Você vai ficar surpreso, tão surpreso como se uma flecha veloz acertasse o seu crânio. A efervescência teatral e cultural de Niterói não é coisa de aldeia perdida vagando nas trevas do século XVI ou de águas calmas, mas de uma cidade que entendeu que a qualidade humana da vida passa pelo amor ao palco. Pois é, Araribóia que nos perdoe, abra os olhos: o maior amigo da sua vida é o teatro.
Serviço:
Ficha técnica:
Diretor geral: Fabio Fortes
Coordenadora artística: Vivian Sobrino
Diretor de produção: Moreno Almeida
Produtores: Claudia Macedo, Eneida Campbell, Renata Egger, Rodrigo Sundin e Thaynná Curcino
Produtora executiva e Gestora de mídias sociais: Ana Loureiro
Assistente de produção: Anna Clara Almeida e Silvana Hygino
Designer gráfico: Tairone Vale
Coordenador técnico de plataformas virtuais: Bruno Egger
Curadores: Cleiton Echeveste, Djalma Thürler e Tairone Vale
Oficineiros: Chico Pelúcio, Maria Helena Cunha, Moacir Chaves e Simone Kalil
Mediadores: Bruno Ramos, Cleiton Echeveste, João Luiz de Souza e Raphael Viana
Coordenadores de Acessibilidade: Bruno Ramos e Stephannie Carvalho
Apresentadora: Claudia Macedo
Atores-produtores de conteúdo nas redes sociais: Angelo Morse, Márcio Machado e Thiago Chagas
Assessoria de imprensa: Rachel Almeida (Racca Comunicação)
Patrocínio: Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, da Secretaria Especial de Cultura e do Ministério do Turismo por meio da Lei Aldir Blanc.
CONTRIBUA: Faça a sua doação diretamente na conta:
nubank (260)
ag 0001
C/C 50681502-9
Fabio Fernandes Ferreira
CPF: 069098727-70
Serviço:
Festival Niterói em Cena
Data: De 18 a 24 de fevereiro
Informações e retirada de ingressos: www.niteroiemcena.com.br.
Ingressos: gratuitos, com possibilidade de contribuição voluntária
Programação por dia:
18 de fevereiro
20h – Mesa de conversa com Gerald Thomas
19 de fevereiro
10h – Mostra Niterói (Youtube). Exibição dos espetáculos O Edredom (Coletivo Macacos Alados); Quem disse? Teatro feminista para crianças (Abelha Mestra Produção Artística); As Bodas de Rapunzel (Artecorpo Teatro) e Em Contos em Encontros das Águas (Agromelados Cia Teatral). Os vídeos ficarão disponíveis até o dia 24/02.
11h – Oficina “Teatro Para Curiosos – O Nordeste de Suassuna pelo viés do Movimento Armorial, com Simone Kalil
16h – Apresentação de Kolofu (Nigéria)
21h – Mesa de Conversa “Artes e ativismo cultural: ferramentas da luta antirracista da abolição aos dias atuais”. Mediação: João Luiz de Souza (o João do Corujão).
20 de fevereiro
11h – Sessão acessível O Edredom, seguida de mesa de conversa “Como tornar o Teatro Acessível”
16h – Apresentação de Un Truc Super (Uma Coisa Legal) (Bélgica)
21h – Apresentação de Ensaio Sobre a Perda (Rio de Janeiro)
21 de fevereiro
11h – Apresentação de Casa em Jogo! (Playgrounds por todo lado) (País Basco)
16h – Apresentação de Zapato busca Sapato (Minas Gerais)
21h – Apresentação de Sobre Trabalho ou Sobre Viver (Rio de Janeiro)
22 de fevereiro
10h – Oficina “Teatro online: reflexão e prática”, com Moacir Chaves
14h – Mesa de conversa “Internacionalização do teatro”
18h – Apresentação de Zita (Moçambique)
21h – Apresentação de Todos os sonhos do mundo (São Paulo)
23 de fevereiro
11h – Oficina “Conversas com novos grupos e artistas sobre organização e sobrevivência artística”, com Chico Pelúcio (PARTE 1)
18h – Apresentação Kate´s Tales (Itália)
21h – Apresentação de A mulher que sonhava (Rio de Janeiro)
24 de fevereiro
11h – Oficina “Conversas com novos grupos e artistas sobre organização e sobrevivência artística”, com Chico Pelúcio e Maria Helena Cunha (PARTE 2)
18h – Apresentação de Project.Fail ERROR:404 (Alemanha)
21h – Apresentação de Ch@furdo (Ceará)
Informações dos espetáculos:
Mostra Teatro em Casa
Casa em Jogo! (Playgrounds Por Todo Lado), País Basco | AO VIVO
Espetáculo infantil
Companhia: Artefactos Bascos
Criação: Ieltxu Ortueta & Erwin Maas
Performance: Ieltxu Ortueta
Idioma: português
Concepção e criação:
Tempo de duração: 45 a 60 minutos
Classificação etária: Livre
Ch@furdo (Ceará) |AO VIVO
Espetáculo adulto
Companhia: Dona Zefinha
Roteiro e Direção: Orlângelo Leal
Elenco: Orlângelo Leal, Paulo Orlando e Ângelo Márcio
Idioma: português
Tempo de duração: 45 minutos
Classificação etária: Livre
Ensaio Sobre a Perda (Rio de Janeiro) |AO VIVO
Espetáculo adulto
Companhia: Os Manus
Direção: João Fonseca
Elenco: Hamilton Dias, Herton Gustavo Gratto e Andre Celant
Idioma: português
Tempo de duração: 1h
Classificação etária: 16 anos
Kate’s tales (Itália) | GRAVADA
Espetáculo adulto
Companhia: The open program of Jerzy Grotowski and Thomas Richards
Texto e interpretação: Agnieszka Kazimierska
Direção: Mario Biagini
Idioma: italiano, com legendas em português
Tempo de duração: 1h10
Classificação etária: 16 anos
Kolofu (Nigéria) | GRAVADA
Espetáculo infantil
Idioma: inglês
Companhia: Kininso Koncepts Productions
Concepção e direção: Joshua Alabi
Elenco: Julius Obende, Chinenye Chukwudi, Oluchukwu Ukachukwu e Aniefiok Inyang
Tempo de duração: 35 minutos
Classificação etária: Livre
A mulher que sonhava (Rio de Janeiro) | AO VIVO
Espetáculo adulto
Companhia: Dobra (antiga Cia de Teatro Manual)
Texto, direção, trilha sonora e atuação: Helena Marques e Matheus Lima
Idioma: português
Tempo de duração: 20 minutos
Classificação etária: Livre
Project.Fail ERROR:404 (Alemanha) | GRAVADA
Espetáculo adulto
Concepção e criação: Alice Nogueira e Ana Clara Montenegro
Voz em off: Sven Rausch
Idioma: inglês, com legendas em português
Tempo de duração: entre 20 e 24 minutos
Classificação etária: 16 anos
Sobre Trabalho ou Sobre Viver. (Rio de Janeiro) | AO VIVO
Espetáculo adulto
Dramaturgia Coletiva
Mediação|Direção|Provocação|Acolhimento: Natasha Corbelino, Renata Tavares e Tatiana Henrique
Elenco: Bárbara Abi-Rihan, Camila Zampier, Diogo Nunes, Fábio Lacerda, Ricardo Rocha, Vinicius Mousinho, Viviane Pereira
Idioma: português
Tempo de duração: 1h20.
Classificação etária: 14 anos
Todos os sonhos do mundo (São Paulo) | AO VIVO
Espetáculo adulto
Companhia: Os Satyros
Concepção: Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez
Direção: Rodolfo García Vázquez
Atuação: Ivam Cabral
Tempo de duração: 1h
Classificação etária: 12 anos
Un Truc Super (Uma Coisa Legal), Bélgica | GRAVADA
Espetáculo infantil
Idioma: francês, com legendas em português
Companhia: Compagnie de La Casquette
Texto: Isabelle Verlaine, Miguel Camino e Alexandra Nicolaidis
Direção: Isabelle Verlaine
Elenco: Alexandra Nicolaïdis e Miguel Camino
Musicista: Félicie Cavalière
Tempo de duração: 50 minutos
Classificação etária: Livre
Zapato busca Sapato (Minas Gerais, Uberlândia) | GRAVADA
Espetáculo infantil
Companhia: Trupe de Truões
Direção: Clarissa Malheiros (México)
Dramaturgia: Clarissa Malheiros e Juliana Faesler (México), com colaboração de Rogério Manjate (Moçambique)
Elenco: Amanda Barbosa, Laís Batista, Ricardo Augusto e Ronan Vaz (BRASIL)
Idioma: português
Tempo de duração: 42 minutos
Classificação etária: Livre
Zita (Moçambique) | GRAVADA
Espetáculo adulto
Com Yuck Miranda
Idioma: português
Tempo de duração: 35 minutos
Classificação etária: 18 anos
Mostra Niterói
Espetáculos disponíveis no canal do Youtube Niterói em Cena das 10h do dia 19/02 às 23h59 do dia 24/02 ()
As bodas de Rapunzel | YOUTUBE
Espetáculo infantojuvenil
Companhia: Artecorpo Teatro e Cia
Texto: Irmãos Grimm
Adaptação: Rachel Palmeirim e Eliana Lugatti
Direção: Rachel Palmeirim
Elenco: Eliana Lugatti, Rachel Palmeirim, Ricardo Lyra Jr e Renato Badeco
Idioma: português
Tempo de duração: 50 minutos
Classificação etária: Livre
Em Contos em Encontros das Águas | YOUTUBE
Espetáculo infantojuvenil
Idealização e realização: Agromelados Cia Teatral
Direção: Erika Ferreira
Direção Musical: Kadú Monteiro
Texto: Contos populares de domínio público
Elenco: Cris Ribeiro, Ian Oliveiras, Luciano Barbosa e Sylvio Moura
Idioma: português
Tempo de duração: 50 minutos
Classificação etária: Livre
O Edredom | YOUTUBE
Espetáculo infantojuvenil
Realização: Coletivo Macacos Alados
Texto e performance: Tauã Delmiro
Direção: Manu Hashimoto
Intérprete de Libras: Karina Zonzine
Idioma: português
Tempo de duração: 40 minutos
Classificação etária: Livre
QUEM DISSE? Teatro feminista para crianças | YOUTUBE
Espetáculo infantojuvenil
Realização: Abelha Mestra Produção Artística
Texto: Ana Luiza França
Direção: Breno Sanches
Elenco: Ana Luiza França e Filipe Codeço
Idioma: português
Tempo de duração: 55 minutos
Classificação etária: Livre