Pelados de ideias
Um debate de temperatura elevada sacudiu o facebook há pouco tempo: dá para considerar como teatro peças em que a representação envolve o simples ato de se apresentar pelado? Ou de praticar em cena atos prosaicos de, digamos, descontração física? Para esclarecer a dúvida, vale exemplificar – no caso de maior repercussão, uma montagem que teria sido patrocinada pelo SESC/SP, a apresentação consistiria, segundo o que se propagou, em atores nus que exploravam o ânus do colega de cena mais próximo. O debate virtual, claro, até foi divertido, mas se reduziu mesmo ao confronto de visões morais singelas.
Vamos combinar: foi um pouco triste. Para quem entende o teatro como uma forma material, sensível, expressiva, de sintonia com a racionalidade, posto que implica num conceito de vida e de mundo, a situação seria mais do que risível, beiraria o ridículo. Pois, para este ponto de vista interessado no teatro como arte, a tendência, tão nua, ilustraria aquilo mesmo que estava em cena: nada.
Assim como os corpos vestiam nada e se propunham a explorar basicamente o impacto deste nada, assim não existiria em cena arte nenhuma, apenas desperdício de dinheiro público e do tempo alheio. Há, contudo, o argumento contrário, possível eco de um clamor dos novos tempos, ansiosos por novas formas e novas faces da arte.