Poeira de estrela ao nosso redor
Asemana começou sob o signo da dor: o adeus a uma grande estrela é sempre um mergulho na sensação de que, sem ela, ficamos menores e piores. Tônia Carrero partiu e com ela seguiu uma fortuna cultural imensa, muito variegada, um mundo do teatro impactante, uma história de mulher sensacional. E mais: desaparece agora também um jeito de ser carioca, talvez em boa parte o jeito de ser carioca. Dói fundo na gente, porque sabemos que a parte perdida contava muito e é irrecuperável.
A morte abriu o baú das lembranças e várias histórias deliciosas circularam sobre a lenda viva que foi a atriz irresistível. Além da carreira de elevada voltagem artística, Tônia Carrero foi uma mulher exuberante, alegre, iluminada, senhora de uma presença arrebatadora em qualquer roda social, numa época em que o Rio era a roda social do país. Conviver com ela era sempre oportunidade certa para saudar a alegria, flertar com as emoções mais positivas da vida. E entristece a todos os amantes do teatro constatar que a sua morte acontece num momento em que um estranho ciclo parece estar se fechando – em 2016, a cidade perdeu a Sala Tônia Carrero, no Leblon, enquanto o teatro, se não está andando para trás, está estagnado.