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Amor, a quem a nossa alma pertence?

Você já amou Charles Aznavour? Amar aqui não é um sentimento genérico, de superficialidades sociais. É amar mesmo, aimer tout court, aquela vibração intensa e profunda que varre todos os chacras, ilumina a alma e arrepia a pele. Sabe como é? Conhece?

Sei, entendo bem, Charles Aznavour não é unanimidade eterna universal. Talvez o amor seja sempre personalizado, na verdade. E, neste caso Aznavour, o sentimento depende da idade e, claro, de amar, também, o francês. Não dá para amar no desentendimento. Com certeza não dava para ter caso de amor na Torre de Babel…

Pois eu lhes digo: vem aí uma peça de sonho, um anúncio da primavera. Uma peça sob medida para quem ama o sedutor cantor francês, a sua terra, o seu idioma e a linha dos musicais delicados.

Sim, existem musicais delicados – ainda escrevo a respeito, as classificações possíveis dos musicais a partir dos tremores de alma provocados. Mas este é outro assunto.

O que importa aqui e agora, hoje, é reconhecer um fato simples: nós, sem os sonhos, sem os amores, somos carcaça oca à deriva, inúteis arremedos de formas humanas. O que nos dá motor, régua e compasso é o amor. E vale frisar o quanto o ato de amar está associado ao ato de ter amor, de ser amado ou ter sido amado. O amor é o grande elixir mágico da vida.

Não faltam exemplos para ilustrar a constatação. Quando se fala na necessidade urgente de proteger a infância, na obrigação, ignorada por tantos, de cuidar das crianças brasileiras, o foco está aí: cuidar do arsenal de amor da sociedade brasileira. O abandono infantil vigente no nosso país estrutura diretamente o padrão de violência da sociedade em que vivemos.

E se ainda não se pode anunciar tudo, a todos os ventos, deste baile de amor secreto que será visto em homenagem a Charles Aznavour, dá para falar do amor perdido que move o texto Pão e Circo, de Leonardo Bruno e Pedro Monteiro, teatron com estreia marcada para dia 20 de agosto no Sympla.

Neste caso, o abandono paterno, tão comum no Brasil, marca a vida de um goleiro de sucesso. Como tantas crianças brasileiras, ele não teve o direito de ter o nome do pai na sua certidão de nascimento. Nasceu, cresceu e virou um campeão graças à força de sua mãe – esteio forte que, com frequência, não apaga a dor surda que rói quem é vítima de abandono paterno.

Pai não é apenas uma realidade objetiva, um nome no papel ou um bolso capaz de pagar pensão – pai é amor, sonho, visão de mundo e de realidade, esteio afetivo e moral. Para sublinhar a força da relação, os autores escolheram jogar a reflexão do tema no campo do futebol – um terreno fértil para a construção da identidade e do diálogo entre pai e filho.

O projeto também deseja demonstrar amor ao teatro. Para tanto, aposta alto na pesquisa de linguagem para a realização de teatro virtual. Assim, além da direção entregue ao experiente Isaac Bernat, o inquieto diretor de cinema Cavi Borges assumiu a direção de vídeo.

Na sua origem, a peça seria encenada regularmente. Com a pandemia, houve a mudança de formato, com a gravação das cenas sob a supervisão dos dois diretores no Centro Coreográfico da Cidade do Rio de Janeiro.

O time de feras reunido no projeto reúne ainda a batuta de Charles Kahn, na direção musical, a luz do consagrado Aurélio de Simoni, a direção de movimento eficiente de Andrea Jabor e a cenografia sempre ousada de Doris Rollemberg.

De frente para o gol, o elenco conta com Gabriela Estevão, Henrique Eduardo, Osvaldo Mil e Pedro Monteiro. Vale destacar que Henrique Eduardo é um ator juvenil com uma trajetória bastante relevante para a sua pouca idade. Em cena, o quarteto não assina um dramalhão, nem promove um desfile de dores do abandono. O foco é bem outro.

A rigor, a peça está interessada em grau máximo no amor,  quer dizer, a coisa vai bem além do sonho e do amor virtual passível de envolver fãs dedicados de Aznavour…  Chega-se, então, no efeito reativo do sentimento, quer dizer, a possibilidade de superação amorosa do vazio do abandono.

Sim, a jogada é de craque: da falta se pode fazer um belo gol. Afinal, nenhum ser humano é perfeito e resta, para todos, a obrigação de conviver com isto. No fundo, talvez a oportunidade do amor aponte para esta nossa fratura. Amar seria um meio de elevar a banalidade rotineira à superação, cogitar a busca da perfeição impossível.

Afinal, atravessamos a vida cercados por um séquito de esforços de amor perdidos, portanto buscas vadias pela perfeição, vãs delírios sentimentais. Uma dor toda nossa, enfim, que nos torna o que somos – humanos – e nos impõe, num ciclo infindável, a necessidade absoluta do amor.

O tema, tão ardente como um amor rascante mal resolvido, é a carne viva de Pessoas Perfeitas, peça exemplar da Cia Os Satyros, montagem superpremiada de 2014.

Ela retorna em boa hora ao cartaz, agora em formato digital, em transmissão ao vivo e online.   Aqui o olhar recai sobre os moradores anônimos da grande São Paulo, esta vertigem urbana voraz, capaz de tragar a todos. Um painel de seres movidos pelo medo da solidão, pela desintegração das famílias, pelo apagamento metropolitano, ocupa a cena para falar da chance do encontro e da convivência.

A montagem reitera a força admirável da companhia, uma usina teatral única, sublinha a sua capacidade de resistência às ameaças sinistras da pandemia. No isolamento imposto pelo coronavírus, o conjunto se tornou um dos mais ativos do momento. Além de estrear treze espetáculos digitais e realizar o Festival Satyrianas na mesma modalidade, os Satyros apostaram na manutenção de uma política teatral nobre, com a constituição de repertório próprio no formato digital, condição atestada pelo retorno desta montagem.

Números impressionantes foram conquistados, apesar da quarentena, e o exemplo mais impactante ainda é A Arte de Encarar o Medo, a primeira peça pensada para a plataforma Zoom, em 2020, uma criação ousada, apresentada em três versões diferentes, uma brasileira, uma afro-europeia e uma norte-americana. Destaque importante: foram todas dirigidas e ensaiadas pelo diretor brasileiro Rodolfo García Vázquez, remotamente. Apesar das distâncias e dos fusos horários, elas alcançaram uma marca revolucionária para o nosso teatro, pois foram vistas por mais de 30.000 pessoas em todo o mundo. 

Como explicar tais feitos, índices de dedicação ao teatro com que poucos coletivos nacionais chegaram até hoje a sonhar? Uma palavra simples, mas forte, traduz com exatidão a natureza profunda dos fatos – amor.

Não mais, aqui, um amor delirante, de sonho, de evasão do tédio do mundo, em direção ao paraíso insinuado pela lenda francesa. Mas um amor de dedicação e de trabalho, de crença na potência do teatro e na sua capacidade de abraçar – e de amar – todos os homens. Em resumo, aquele amor hábil para capturar os corações, dominar as vidas. Aquele amor a quem a nossa alma, definitivamente, pertence.

PAO E CIRCO
SERVIÇO:
Temporada: de 20 de agosto e 3 de outubro
Dias e horários: sextas, sábados e domingos, a partir das 18h.
O vídeo ficará disponível por 24 horas
Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia).
Vendas pelo Sympla (www.sympla.com.br/pao-e-circo__1288660)
Tempo de duração: 35 minutos
Classificação etária: Livre
Assessoria de imprensa Racca Comunicação
Rachel Almeida  
FICHA TÉCNICA:
Idealização: Pedro Monteiro
Dramaturgia: Leonardo Bruno e Pedro Monteiro
Direção: Isaac Bernat
Direção musical: Charles Kahn
Direção do vídeo: Cavi Borges
Direção de movimento: Andrea Jabor
Elenco: Gabriela Estevão, Henrique Eduardo, Osvaldo Mil e Pedro Monteiro
Stand-in: Lucas Oradovschi
Cenógrafa: Doris Rollemberg
Cenógrafa assistente: Maria Clara Almeida
Figurinista: Bruna Falcão
Figurinista assistente: Raphael Elias
Iluminação: Aurélio de Simoni
Cenotécnico: Beto de Almeida
Contrarregra: PV Israel
Fotografia/câmera: Fabrício Mota
Câmera 2: André Morbach
Som direto: Toninho Muricy
Edição: J.C. Oliveira
Acessibilidade: Daniela Mahmud
Fotos de divulgação: Beto Roma
Fotógrafo assistente: Rodrigo Castro
Produção: Dani Carvalho, Pedro Monteiro e Tamires Nascimento
Ass. de produção: Gabriela Estevão
Assessoria de Imprensa e gestão de redes sociais: Rachel Almeida
Programação visual: Fernanda Precioso
Assessoria Jurídica: Bruno Assis
Coordenação e planejamento para lei de incentivo: Bárbara Arraes
Coordenação de produção: Tem Dendê! Produções – Tamires Nascimento  
     
PESSOAS PERFEITAS
SERVIÇO:
ESTREIA: dia 20 de agosto (6ªf), às 21h
INGRESSOS GRATUITOS e a R$10,00   
ONDE RETIRAR E ASSISTIR: Espaço Satyros Digital – Sympla/Zoom www.sympla.com.br/espacodigitaldossatyros 
HORÁRIOS: Sextas e sábados, às 21h e domingos às 20h
GÊNERO: Drama
CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA: 14 anos 
DURAÇÃO: 90 min 
TEMPORADA: até 10 de outubro
www.satyros.com.br
Facebook: Satyros|Twitter: @os_satyros |Instagram: @ossatyros | YouTube: Os Satyros Cia. de Teatro  

FICHA TÉCNICA
Texto: Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez
Direção: Rodolfo García Vázquez
Elenco: Ivam Cabral, Eduardo Chagas, Fernanda D’Umbra, Henrique Mello, Julia Bobrow, Fábio Penna e Sabrina Denobile
Assistência de Direção: Gustavo Ferreira
Designer de Aparência: Adriana Vaz
Assistência de Designer de Aparência: Letícia Gomide 
Operação Técnica: Flávio Duarte
Produtor: Silvio Eduardo 
Assistente de Produção: Janna Julian 
Secretariado e Social Media: Isabella Garcia 
Designer: Henrique Mello 
Fotografia: André Stefano 
Administração: Rodolfo García Vázquez 
Assessoria de Imprensa: JSPontes – João Pontes e Stella Stephany      
OS SATYROS, Pessoas Perfeitas, foto: divulgação.